Temos conversado neste espaço, há várias semanas, sobre o enorme e crescente problema do aumento de suicídio em jovens. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram que o suicídio é a segunda maior causa de morte no mundo entre pessoas de 15 a 29 anos. A triste constatação da OMS: a cada 4 segundos uma pessoa tenta suicídio no mundo e a cada 40 segundos, uma consegue.
A sociedade “dark” que os pensadores existencialistas acabaram por nos levar, tem forte base nestes números. Um mundo individualista, que renega o sólido. Mundo da “modernidade líquida” que teme compromissos e que nega toda ordem pré-estabelecida. Avesso às tradições, à autoridade de todo tipo, que ataca igrejas e a fé. Mundo de muita ansiedade, que está em constante mudanças e não dá garantias, para ninguém, e, mais ainda, expõe nas redes sociais os sucessos e, cruelmente também, expõe os fracassos repetidas vezes! Cada um tenta sobreviver e ficar com a cabeça por cima do nível da água. Um mundo que exige um eterno movimento para não sucumbir. Muitos estão cansados! Precisamos urgentemente sair deste lugar!
Os adolescentes que estão com hormônios e inseguranças explodindo dentre de si, que não sabem ainda quem são e dependem dos grupos e amigos para buscarem essas respostas recebem um caos de informações de um mundo que não aceita mais certezas. Adolescentes que temem errar, e o certo e errado neste caos é muito volátil. Se saem fora do esperado são expostos pelos colegas, publicamente e o “cyberbullying” (o bullying pela internet e mídias) é cruel. Não sabem como agir. Não conseguem a estabilidade que necessitam.
Neste cenário o sofrimento dos jovens já era grande desde antes da pandemia. Depois de quase dois anos de isolamento social, sem escolas nem “rocks”, com um tipo de relacionamento ainda mais restrito, ser “bloqueado” por pessoas ou grupos que efetivamente importam, é perder muito do que os sustentam. Excesso de novelas e reality shows elevaram fofocas e mentiras para níveis de estratégia, de verdadeiros “jogos”. Muitos jovens estão desistindo. Não acreditam em seus potenciais, não acreditam em si mesmos. Não conseguem ter um diálogo com os pais que, por sua vez, também estão lutando para manter a “cabeça fora da água”!
Conversamos já sobre o papel dos pais e os sinais de alerta. Hoje fechamos essa série de artigos com sugestões de ações focadas nas ações das escolas e para orientação dos próprios jovens.
Para as escolas é vital que estejam atentos a esses alunos que pioraram emocionalmente na pandemia, assim como os sinais de isolamento, agressividade e depressão, para os ajudarem e inclusive aos que abandonaram a escola. Buscar entender o que está acontecendo, sem rotular o aluno como problemático, conversar com ele, dialogar compreensivamente com os pais! Esse é o primeiro caminho, mesmo que já tenha sido percorrido, tenta de novo.
- A OMS sugere uma abordagem de apoio a diversos países que, como o Brasil, estão enfrentando o crescimento de suicídio em jovens com a pandemia. Chama-se “LIVE LIFE” (disponível em inglês). É uma orientação abrangente na busca da implementação de ações de prevenção do suicídio com links para serviços de apoio e protocolos claros para pessoas que trabalham em escolas e universidades quando o risco de suicídio é identificado. Buscam dar apoio a adolescentes de 10 a 19 anos “uma vez que metade dos problemas de saúde mental aparecem antes dos 14 anos”. A orientação da LIVE LIFE incentiva ações de promoção da saúde mental e programas anti-bullying tão importantes hoje. Ressaltam a necessidade do treinamento da imprensa para a divulgação destas notícias uma vez que de forma errada essas notícias podem motivarem outros jovens a se suicidarem.
- A UNICEF desenvolveu um ebook (disponível no link abaixo), para os adolescentes no enfrentamento das suas dificuldades habituais. O livro é dividido em quatro partes: Primeiros Socorros Emocionais; Comunicação Não Violenta; Uso da Tecnologia; Planos e Projetos de Vida. Um caderno bem interessante, em especial as duas partes finais. Alerta para os novos perigos da internet (muito bom inclusive para pais e educadores) e traz exercícios e reflexões para o autoconhecimento e promoção de saúde mental. Vale a pena dar uma olhada:
https://www.unicef.org/brazil/media/16126/file/saude-mental-de-adolescentes-e-jovens.pdf
Vania Reis
Fonte: Aves